segunda-feira, 20 de julho de 2015

Cidade dos anjos sem asas

Do terraço do prédio onde moro, a cidade parece mais bonita.
À noite, as luzes das casas se acendem, que de longe, parecem estrelas que caíram do céu.
De longe, a cidade não é nada mais que um grande clarão que ilumina a vista de quem vê.
É atraente, é bonito, mas é só isso, não há muito mais o que ver.
A não ser que você chegue mais perto.

Entrando nas ruas dessa cidade, você pode enxergar mais detalhadamente tudo o que a compõe.
Os graffitis nos muros, as flores nascendo no meio das rachaduras do chão, as casas que de tão velhas estão quase despencando, os postes em que a lâmpada já não funciona mais, a praça em que as crianças brincam mesmo sendo um lugar tão abandonado, as marcas de balas perdidas e até algumas manchas de sangue.
Por isso que de perto, as pessoas não achem a cidade tão bonita assim. É difícil, mas se você parar um pouco para pensar, não é a vista que realmente importa, mas sim a história que carrega.
A história de milhares de habitantes que vivem ou viveram ali, a história de todas as árvores, flores e plantas que nasceram e morreram ali, a história de vidas que se cruzaram ali. É a única coisa que deveria importar.
Mas preciso aceitar que as coisas não funcionam bem assim.
Aliás, preciso aceitar que não tenho o poder de mudar nada.

Olho para baixo, e mesmo sendo muito alto, ainda é possível enxergar uma pequena flor já desabrochada em mais uma rachadura do asfalto.
É uma flor muito bonita, posso dizer assim. Mas ela poderá ser pisoteada a qualquer momento, por alguém que nem notou sua existência. Afinal, ela é apenas mais uma no meio de milhões.
Mas eu darei um fim melhor para você, frágil flor.
Morrerá com meu corpo estirado no chão, lhe despedaçando.
Mas não se preocupe, pequena flor, não morrerá sozinha.
Assim minha vida terá um fim menos solitário com você.

Então acaba mais uma insignificante história de outras milhares que ainda são escritas, mas que no fim, sempre tomarão o mesmo rumo.



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