segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Bonequinha de porcelana em Paris

Autora convidada: Ana Carolina Gonçalves

Ela havia conseguido. Finalmente, havia realizado o sonho de sua vida! E justamente quando a esperança havia acabado. Ali, tão perto de uma das maravilhas de fero do mundo, tudo, os problemas, as amigas, as notas insuficientes aos olhos dos pais, tudo havia evaporado. Parecia um sonho.
-Aqui. -Benjamin apareceu ao seu lado, oferecendo-lhe um copo de chocolate quente, muito bem-vindo no frio de Novembro. Ele era a única coisa que a fazia lembrar-se que eles realmente haviam chegado até ali.
Há três meses, eles se conheceram, em um café, próximo à casa de uma das amigas de Ava. Ele estava fazendo Desenho e ela pretendia fazer Medicina. Apesar dos amigos dizendo que exatas e biológicas não combinavam, os dois remaram contra um tsunami para ficarem juntos. Ela era menor de idade e, além de passar pelos pais dela, estavam burlando a Lei.
-Obrigada. -Ela se aninhou a ele e voltou a admirar a Torre. A Torre Eiffel. A bonequinha de porcelana, como a avó a chamava estava em Paris. -Sabe, minha avó e meu avô, eles viajaram o mudo inteiro. -Ela falava com um olhar sonhador. O mesmo olhar que fez Benjamim se apaixonar por ela. Ele viu seu reflexo naqueles olhos. Ele reparava muito nas pessoas e, com ela, não era diferente. Bem, a diferença, na verdade, é que, com ela, o Instagram havia ganhado um outro filtro, que as pessoas chamam de amor. -A primeira e a última parada deles foi aqui. Paris.-Ela disse o nome da cidade com tanto carinho, paixão e algo mais, que Ben não pôde explicar mais tarde no Diário de Bordo deles (ou Livro de Memórias, como Ava preferia).
-Ava? -Ela estava distraía (como sempre, viajando em sua própria dimensão), e ele teve que chamá-la mais uma vez. -Ava!
-O quê? -Ela se virou, espantada, quase derramando o chocolate, agora frio. Ele riu. Alguns metros mais adiante, artista de rua, fantasiados de palhaços, tocavam valsas. Ela riu, pesando o quão clichê aquela cena era, até que Benjamin fez algo... inesperado. Ele sumiu! Sim, isso mesmo. Ele a deixou sozinha no meio de franceses e turistas, sem contar as crianças pulando em volta dos palhaços, que haviam mudado a trilha sonora.
Um piano começou a tocar, atrás de Ava e ela se virou para encarar Benjamin, de terno e gravata, tocando Je Vais T'Aimer. Ela havia conhecido essa música no curso de francês e havia se apaixonado. Quando ele começou a cantar, porém, não foi o “A faire pâlir tous les Marquis de Sade” que saiu da boca dele.
Um sacolejo, seguido de um “bonsoir, mon  amour”, a despertaram daquele sonho maravilhoso.
-Duda, -Ben falou baixinho, apontando pra fora da janela, enquanto eles pousavam. -olha lá!
Em meio à prédios e árvores, lá estava ela.
-La Tour Eiffel. -Ela falou, baixinho, em um perfeito francês. O avião pousou e, em alguns minutos, o desembarque estava autorizado. Benjamin se levantou, colocando a mochila sobre os ombros, e lhe ofereceu a mão. A cidade luz e o amor de sua vida a esperavam. Ela aceitou, depois de ajeitar a touca vermelha. Os cabelos agora grandes demais, porém tão belos quanto antes.
Quando puseram os pés no chão do aeroporto, por um segundo, ela pensou que pudesse ainda estar sonhando. Mas, então, Ben a puxou para perto e a beijou. Ela se perdeu em seus braços, enquanto os dedos passeavam pelo recém-cortado cabelo castanho claro. Ela pensou; “bom, se isso é um sonho, então eu não quero acordar mais.” Ela o afastou e girou, ainda segurando sua mão.
-Eu te amo, Benjamin. -Ela riu, como uma criança que encontrou um unicórnio debaixo da árvore de Natal. -Eu te amo! -Ele abaixou a cabeça também e dá um sorriso tímido, achando graça da reação dela.
Como ele a amava! E ela, com certeza não tinha ideia da dimensão daquilo tudo. E ele estaria ali explicando, quantas vezes fosse preciso.
-Eu te amo, Ava. -Mal sabiam que aquilo era início, meio e fim. Tudo ao mesmo tempo.


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